A fim de se proteger das deturpações freqüentemente levadas a cabo pela Velha Mídia (Veja, Folha, O Globo, etc) em seus esforços constantes de pintar o pior retrato possível de tudo que diz respeito ao governo federal, a Petrobras passou a utilizar um blog, Fatos e Dados, para divulgar as perguntas que são enviadas à estatal por jornalistas destes veículos – incluindo, nos posts, as respostas às indagações.
Há algo de mal nisso? De errado? De maligno? Se há, não consigo identificar o que seja. É uma maneira inteligente e válida de esclarecer publicamente o que lhe é questionado – e ao publicar as perguntas e respostas na íntegra, a Petrobras não apenas expõe formatações capciosas de certas perguntas como ainda se protege caso o veículo que receba a resposta decida editá-la ao seu próprio modo.
Assim, é claro que alguns destes veículos denunciaram a iniciativa como algo errado e maligno, como uma tentativa de manipular a opinião pública. Sim, você leu corretamente: responder perguntas publicamente é um artifício maniqueísta.
Como se não bastasse, até mesmo a Associação Nacional de Jornais (ANJ) entrou na confusão para defender seu pobres filiados – e num comunicado absolutamente inacreditável (que pode ser lido na íntegra aqui), ela chega a defender o seguinte (e ridículo) argumento:
"Numa canhestra tentativa de intimidar jornais e jornalistas, a
empresa criou um blog no qual divulga as perguntas enviadas à sua
assessoria de imprensa pelos jornalistas antes mesmo de publicadas as
matérias às quais se referem, numa inaceitável quebra da
confidencialidade que deve orientar a relação entre jornalistas e suas
fontes."
Hã… queridos?… esta confidencialidade estabelece obrigações do jornalista para com sua fonte (como preservar sua identidade, caso solicitado, e manter em off aquilo que a fonte não quer ver publicado), não o contrário. Em 34 anos de vida, nunca ouvi alguém dizer que a fonte deve manter em segredo o que lhe foi perguntado – a não ser em raros casos em que um acordo neste sentido é assinado pelo entrevistado.
Mas a estupidez continua:
"Como se não bastasse essa prática contrária aos princípios
universais de liberdade de imprensa, os e-mails de resposta da
assessoria incluem ameaças de processo no caso de suas informações não
receberem um “tratamento adequado”."
Mais uma vez: como, exatamente, a Petrobras está ferindo a liberdade de imprensa ao publicar as perguntas e respostas em seu próprio blog? E a tal "ameaça" é um direito legal: o de ser assegurado que suas palavras não serão tiradas do contexto e modificadas para sugerir algo que não é verdade. Os jornais só devem temer tal "ameaça" se de fato tinham essa intenção; se pretendessem utilizar as respostas com honestidade, não há nada que a Petrobras pudesse fazer contra os veículos.
"Tal advertência intimidatória, mais que um desrespeito aos
profissionais de imprensa, configura uma violação do direito da
sociedade a ser livremente informada, pois evidencia uma política de
comunicação que visa a tutelar a opinião pública, negando-se ao
democrático escrutínio de seus atos."
Outro argumento ofensivo em sua lógica distorcida e estúpida: que "direito da sociedade" a Petrobras está violando ao responder as perguntas enviadas pelos jornalistas e ao exigir que estas respostas não sejam deturpadas quando publicadas? E como ela pode estar se negando "ao democrático escrutínio de seus atos" se está justamente respondendo as perguntas enviadas – e, ainda por cima, num espaço público?
Ou seja: o desespero da Velha Mídia em ver suas manipulações expostas é tão grande que os veículos (devidamente protegidos pelo testa-de-ferro corporativo) partiram para o nonsense a fim de justificar seus interesses obscuros e seu direito à deturpação.
Ridículo. E revelador.
Update: Ao ler o blog da Petrobras, a natureza maliciosa da nota da ANJ se torna ainda mais clara. Sabem as tais "ameaças de processo no caso de suas informações não
receberem um “tratamento adequado"? Pois é: nada mais são do que aqueles avisos padrões que as empresas costumam incluir automaticamente no rodapé de cada email enviado através de seus servidores – uma mensagem incluída, por exemplo, em meus emails enviados pelo Cinema em Cena e que, no caso da Petrobras, diz: "O emitente desta mensagem é responsável por seu conteúdo e
endereçamento. Cabe ao destinatário cuidar quanto o tratamento
adequado. Sem a devida autorização, a divulgação, a reprodução, a
distribuição ou qualquer outra ação em desconformidade com as normas
internas do Sistema Petrobras são proibidas e passíveis de sanção
disciplinar, cível e criminal".
A não ser que todos os integrantes da ANJ sejam débeis mentais, é mais do que óbvio que este rodapé não representa uma ameaça de processo com o intuito de garantir que a Petrobras não seja atacada pelos jornais – e o fato de tentar vender esta mentira prova apenas o mau-caratismo dos autores do ridículo comunicado distribuído pela Associação e de seus "clientes".
Update 2: É claro que o verme-mor da VEJA, Reinaldo Azevedo, está defendendo a atitude da Petrobras como "manobra espúria" e de "guerra à imprensa". Se eu precisasse de mais algum motivo para esfregar esta imbecilidade na cara da Velha Mídia, bom… a simples presença de Azevedo entre os "ofendidos" pela Petrobras seria o bastante.
Update 3 (09/06): O presidente da Associação Brasileira de Imprensa enviou a seguinte carta à Petrobras:
"A
ABI considera legítima a decisão da
Petrobras de criar um
blog
para divulgação das informações que presta à imprensa e especialmente
aos veículos impressos, uma vez que as questões relativas ao seu
funcionamento e aos seus atos de gestão interessam ao conjunto da
sociedade, que não pode ficar exposta ao risco de filtragem das
informações típica e inseparável do processo de edição jornalística. A
empresa tem o direito de se acautelar, através das informações que
difunde no blog, contra as distorções em que os meios de comunicação
têm incorrido, como a própria
ABI registrou em matéria publicada da edição de 31 de maio de um dos jornais que agora se insurgem contra o blog da empresa.
A criação do blog constituiu-se em
instrumento de autodefesa da empresa, que se encontra sob uma barragem
de fogo crítico disparado por vários veículos impressos. Não se poderá
alegar que é assegurado à empresa o direito de resposta, uma vez que
quando este for exercido a informação nociva já terá produzido afeitos
adversos. Ademais, é conhecido principalmente dos jornalistas o
tratamento que a imprensa concede tradicionalmente ao direito de
resposta, se e quando o reconhece e o acata: a informação imprecisa ou
inidônea é divulgada com um destaque e uma dimensão que não se confere
à resposta postulada e concedida.
O presente confronto entre a empresa e
alguns veículos de comunicação tem inegável cunho político, com
favorecimento de segmentos partidários que se opõem ao Governo Lula. A
Petrobras encontra-se, infelizmente, na linha de tiro do canhoneio
contra ela assestado. Atacá-la com a virulência que se anota agora não
faz bem ao País.
Rio de Janeiro, 9 de junho de 2009
Maurício Azêdo, Presidente”