Este post começou como um comentário que iria publicar no post "A Folha se assumindo", mas, quando percebi, havia escrito uma espécie de resposta-desabafo que acabou virando outro post.
Ao ler mais um comentário agressivo publicado pelo leitor Leandro Firmino neste blog, finalmente sucumbi à curiosidade e, pela primeira vez desde que comecei a "blogar", fiz uma pesquisa no histórico de comentários de um indivíduo específico. E o que encontrei foi o seguinte (grifos meus):
"Pablo literalmente ñ sabe o conceito de genocídio, seria bom ele esquecer o que ouviu os vários personagens de Hollywood falar, e ler uns livros para não falar besteira, mas como ele é esquerdista, isto se torna quase impossível."
"Aqui Pablo demonstra como desconhece a Bíblia, e os preceitos básicos do Cristianimo, e como todo esquerdista cai de pau em cima de posturas mais religiosas, e se agarram a mediocridade de sua ideologia. (…) E quanto a presunçosa ironia com ares de profunda intelectualida, com a ignorância nata dos esquerdalhas, Deus criou sim os homossexuais, e não foi Xenu, porém, os dotou de LIVRE ARBITRIO, logo ele pode fazer o que quiser com seu orificio retal."
"Qualquer idiota hoje em dia critica a Igreja e os EUA, e por isso se passa facilmente por intelectual."
"Incrível como o Pablo não consegue diferenciar a prática homossexual, do INDIVÍDUO homossexual. Alguém que é contra atos homossexuais, não necessariamente abomina os homossexuais. E também não sabe o que é homofóbico."
"Deveriam fazer uma charge tb, do soldado Mario Kozel Filho, e do Capitão Chandler, ambos "justiçados" pela corja comunista."
"Fico com o pé atrás com essa notícia, para quem conhece o RJ, sabe que a Lapa de madrugada é um verdadeiro antro de gays, travestis, et caterva."
"A questão não é se os homossexuais devem casar ou não, e sim que tipo de família estaríamos construindo para o futuro da nação, com a autorização desse tipo de "matrímônio" (que nem pode ser chamado assim, pq matrimônio exige que se tenha uma mulher)."
"Homossexuais não devem se casar, pq abre um precedente sobre o tipo de família que estamos construindo. Não se pode inverter as leis que regem a humanidade, e que estão calcadas a milenios. Não existe debate para isso, da mesma forma que não existe refutação à família tradicional."
"Se realmente tudo que o Pablo escreveu nesse post quer dizer ao contrário. Realmente ele é muito ignorante. Acredito que no fundo esta seja a brincadeira do 1° de abril!!! Oremos para que sim!!"
"24 anos; funcionário da Oi; Licenciado e bacharelado em História; moro no Rio de janeiro".
Quando cheguei a este último comentário, em minha rápida pesquisa, quase caí para trás. A partir dos comentários anteriores, eu imaginava que se tratasse de um velho conservador, reacionário e estúpido que tivesse na religião sua fuga de uma realidade torpe e repleta de preconceitos.
Para meu espanto, descobri tratar-se de um jovem conservador, reacionário e que, mesmo com a bagagem proporcionada por um curso de História, parece ter na religião a fuga de uma realidade torpe e repleta de preconceitos.
Em seus comentários, Leandro constantemente refuta qualquer argumento contrário às suas crenças políticas, sociais e religiosas dizendo que o que diz "é fato" ou que "não há espaço para debates". Refere-se ao socialismo ou aos indivíduos de esquerda repetidamente como "corja", "canalhas" e usa mainardismos e azevedismos como "esquerdalha" e "petralha". Defendeu a postura do arcebispo que condenou o aborto feito na criança estuprada. Disse que os homossexuais não deveriam se casar.
E sempre faz questão de estabelecer como me julga ignorante, estúpido e ideologicamente corrompido.
Quando comecei este blog, não imaginei que fosse atrair esse tipo de gente. Não por uma necessidade de ter a aprovação alheia, já que sinto-me suficientemente firme e confortável em minhas convicções para dispensar esse tipo de coisa, mas por pura ingenuidade, mesmo: por acreditar que, numa sociedade moderna e tradicionalmente liberal como o Brasil (ao menos, em comparação com boa parte do mundo), a mentalidade do usuário típico de Internet, de um indivíduo que busca um site voltado ao Cinema e um blog de um crítico desta Arte, seria naturalmente mais avançada, menos preconceituosa ou, no mínimo, não tão tomada pela retórica reacionária de vermes como Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo.
Mas não. Os mesmos órfãos da direita podre que gerou e idolatra as memórias da Ditadura se fazem presentes destilando seu constante veneno neste espaço. Continuam a manifestar o velho preconceito elitista contra Lula embora se beneficiem sem remorsos de seus quase sete anos de gestão brilhante que avançou os índices sociais e econômicos de um país tão carente de líderes que pensassem não apenas nos 5% mais ricos, mas também na maioria miserável.
Sejamos honestos: de onde vêm estas reclamações contra o governo Lula? O país está mal das pernas? As instituições estão paralisadas? Estão tomadas pela corrupção? Ora, denúncias gravíssimas de corrupção existem desde sempre (ou vocês ignoram que FHC pagou 200 mil dólares para cada deputado que votou pela reeleição ou que Marcos Valério foi criado por Eduardo Azeredo?) – a diferença é que, agora, há uma imensa liberdade de investigação, de apuração. O que os reacionários acusam como epidemia de corrupção (como se os oito anos de governo de FHC fossem limpíssimos) eu chamo de "sujeira finalmente vindo a público". Ótimo para o país. Ótimo para nossas instituições.
Mas não adianta. Sem argumentos, apenas com retórica, os velhos comentaristas insistem em interpretar tudo de maneira distorcida. Se linko para um post repleto de ironia sobre o respeito que Lula atingiu lá fora, eles resumem a conversa a um "contra-argumento" besta de que sentar-se ao lado da Rainha Elizabeth não é sinal de prestígio – como se o colunista em questão ou eu estivéssemos afirmando uma ingenuidade dessas em vez de apontarmos que o respeito com que Lula foi tratado lá fora é conseqüência de anos de uma política externa cuidadosamente construída e sedimentada à base de muita diplomacia e inteligência.
Não. Em vez disso, somos "a corja comunista". Estamos "destruindo o país". (E volto a perguntar: sejam sinceros e respondam o que de tão ruim vem acontecendo em seu estilo de vida. Como o governo Lula está destruindo sua família, seus negócios e sua Sociedade? É uma curiosidade autêntica.)
O que me traz de volta à virulência de Leandro Firmino. Imagine que toda vez em que você defendesse um ponto de vista, alguém parasse na sua frente e te chamasse de "estúpido", "ignorante", "imbecil" e usasse termos como "corja", "petralha" e "esquerdalha". O que você faria?
Duas opções: sentaria a mão na cara do sujeito ou lhe daria as costas, ignorando-o.
No passado, quando era um jovem impulsivo que freqüentemente se entregava a confrontos físicos, eu certamente me entregaria à "satisfação" do murro rápido e certeiro na base do nariz, aquele que acaba com a briga antes que esta comece (e como "ganhei" brigas assim, infelizmente). Graças ao fenômeno do envelhecimento, porém, descobri que esta "satisfação" é efêmera; chega ao fim no momento em que surge: num segundo, você aprecia o estrago que fez e se sente vingado; no seguinte, percebe que continua com raiva e que, na prática, provou apenas ser um indivíduo tão ou mais ignorante do que aquele que feriu. Você perdeu. E continua puto.
Não, não, não. Não há nada que dê mais satisfação do que ignorar aqueles que merecem ser ignorados. E, portanto, no cenário hipotético que estabeleci, eu daria as costas ao agressor e o deixaria falando sozinho.
Infelizmente, o que ocorre neste blog é que os agressores estão dentro da minha casa. Entraram graças à hospitalidade que ofereci ao deixar a porta aberta, mas, em vez de devolverem a cordialidade, passaram a quebrar os móveis, a cuspir no chão e a pichar as paredes.
Hora da purgação, cavalheiros.
Há debates e há agressões. Se você entrou aqui, na minha casa, isto não o impede de expressar seus pontos de vista mesmo que estes destoem radicalmente dos meus. Mas você não se aproximaria de seu anfitrião para chamá-lo de "ignorante" e nem se referiria aos seus companheiros de ideologia como "corja". Por que aqui deveria ser diferente?
Pois não deveria e não será.
Então que fique claro: não serei mais tolerante com este tipo de ataque. Não permitirei que este blog se transforme em palco para discursos preconceituosos, raivosos, homofóbicos ou mainardistas. Argumentos são bem vindos; retórica, sofismas e falácias típicas da Folha e da Veja, não. Não gostou? Estou certo de que o blog de Reinaldo Azevedo estará de pernas abertas à sua espera.
Para o bem de minha saúde mental e emocional, não posso mais ficar impassível ao ver este blog ser tomado pelo tipo de discurso que cresci aprendendo a desprezar.